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Espaço Exibicionista

FRANCISCO EDUARDO

Atualizado: 15 de dez. de 2021


Francisco Eduardo Artista
Francisco Eduardo (Portugal)

Francisco Eduardo é formado pela Universidade de Belas Artes do Porto.

Trabalhou em agências de publicidade como designer gráfico, ilustrador, criativo, copywriter e director de arte. Ama o desenho, o filme com grão, o pai e a mãe, os irmãos, os filhos, os amigos e os bichos.


Francisco Eduardo is graduated from the University of Fine Arts of Porto. He worked in advertising agencies as a graphic designer, illustrator, creative, copywriter and art director. He loves drawing, film with grain, father and mother, brothers, children, friends and animals.



Fala-me da "Lei do Menor Esforço" (2015)

Tell me about "Law of Minimum Effort" (2015)


"O que leva o muito, leva o pouco filho.” Diz a minha prima quando fala dos tachos.

De facto um tacho grande dá para fazer muito arroz mas também dá para fazer pouquinho. Porque é que eu hei-de encher o tacho? (questão.) As folhas de papel grandes, são exatamente a mesma coisa. Querendo, posso fazer um desenho grande. São opções.

“Lei do menor esforço” são desenhos muito pequeninos em folhas grandes.

Esforcei-me propositadamente muito pouco na concretização dos desenhos (1 hora por desenho). É o culminar de um pensamento que me acompanha desde os meus tempos de estudante universitário: gostava de ser o primeiro homem a descer para o Everest (de paraquedas imagino). Não podia correr o risco nesta exposição, que a crítica viesse a afirmar “ele podia ter-se esforçado menos” e então optei, no quadro maior, por aumentar apenas o tamanho da folha deixando o desenho ao centro igualmente pequenino. Por último optei mesmo por não fazer o desenho que tinha pensado: a ponta de um corno.

“Where you can fit a lot, you can fit a little”. Says my cousin when she talks about kitchen pots. In fact, you can cook a lot of rice in a large pot but you can also cook just a little. Why do I have to fill up the whole pot? (question.) Large sheets of paper are exactly the same thing. I can draw something big, if I want. It’s an option.


“Law of minimum effort” is composed by very small drawings in large sheets of paper.

I purposely made almost no effort to make these drawings (1 hour per drawing). It’s the culmination of a thought that’s been following me since I was a college student: I’d like to be the first man to descend to the Everest (with a parachute, I imagine). In this show I couldn’t risk the critics claiming “he could have made less of an effort”, so for the larger picture, I decided to only enlarge the sheet’s size, leaving the drawing in the center as small as the others. For the last picture I even decided not to do what I had in mind: “the tip of a horn”, which translated to english means “absolutely bugger all”.



Na tua última exposição (2017), desenhaste girafas muito grandes. Como foi o processo? In your last exhibition (2017), you drew very large giraffes. How was the process?


1. Pedir uma licença de um mês no trabalho.

2. Escolher um sitio onde o tempo seja a dobrar, fora da cidade.

3. Contratar um assistente, para produção, companhia e amizade.

4. Dividir o número de dias pelas girafas que se pretende fazer (no meu caso deu 3 dias por girafa).

5. Estabelecer um horário de vida e cumprir para não passar o dia todo a desenhar.

(Depois cada um faz o que quer nos tempos livres).


1. Apply for a month's work permit. 2. Choose a place where time is doubling, outside the city. 3. Hire an assistant, for production, company and friendship. 4. Divide the number of days by the giraffes you intend to make (in my case, 3 days per giraffe). 5. Establish a life schedule and comply with not to spend the whole day drawing. (Then everyone does what they want in their free time).



E o que escolhias fazer nos teus tempos livres?

And what did you choose to do in your free time?


Ora, era aí que eu queria chegar. Eu contratei o Dinis Santos como meu assistente e fomos para Pedrógão Grande multiplicar o tempo (casa da minha avó Amália).Levantávamo-nos cada vez mais cedo. Começámos pelas generosas 8h30/9h00 mas acabámos a acordar sempre por volta das 7h00 o mais tardar. “O que está a dar é pequenos-almoços, ó Chico”, diz o Dinis que já não convida meninas para jantar. Tomávamos um bom pequeno almoço em casa e saíamos para o nosso passeio matinal, que ou tendia para o lado da Sertã ou para o lado de Figueiró dos Vinhos ou Castanheira de Pêra. Voltávamos por volta das 11H e fazíamos uma hora de desenho. Às 12H em ponto, mas em ponto mesmo, tocava a campainha de casa. Todos os dias. Era a São, a minha madrinha que vive na casa da frente. A São é uma senhora muito bem disposta, que apesar de ter alguma dificuldade de mobilidade, não prescinde da pontualidade e era a nossa companhia fiel de almoço. “Em quantas girafas vão?” perguntava para saber se o trabalho ia avançado. Às vezes ficava com a sensação que toda a vila sabia que nós andávamos a fazer girafas umas atrás das outras. Adiante… à tarde desenhávamos umas 5 horas seguidas e às vezes íamos lanchar ao café central, pão com queijo e meia de leite, que serviam apenas para permitir o escândalo que vinha a seguir: o eclair em forma de U que repartíamos irmamente porque só havia um! E não é que o tempo se multiplicava mesmo. Estivemos lá muito mais tempo do que estivemos de facto. Tanto, que ao sexto dia já o Dinis me dizia o seguinte com toda a naturalidade: “Chico, vou ao António Júlio”. O António Júlio é o dono da mercearia, que eu conheço há anos, e que tinha ordens da minha mãe para não receber um tostão da nossa parte porque era para ficar tudo na conta dela. Impecável, mas deu-nos a chatice de termos que ir adquirir uma garrafa de uísque à vila mais próxima. Uísque, era dito em português cotês (vem de cota) porque fazíamos questão. Era parte do nosso ritual do serão. Sentados nas duas cadeiras de recosto da sala ouvíamos Fausto, Trovante, Zeca, Vitorino e algumas canções soviéticas. E deitávamo-nos por fim por voltas das 22H00, todos os dias.


Now, there is where I wanted to get to. I hired Dinis Santos as my assistant and we went for Pedrógão Grande to multiply time (my grandmother Amália's house). We got up each time earlier. We started at the generous 8:30 am / 9:00 am but ended up waking up around 7:00 am at the latest. "What is going on is breakfast, O Chico," says Dinis, who no longer invites girls to dinner. We had a nice breakfast at home and went out for our morning walk, that either tended to the side of the Sertã or to the side of Figueiró dos Vinhos or Castanheira de Pêra. We would come back around 11 am and do an hour of drawing. At 12 o'clock on the dot, but on the dot, the home bell rang. Every day. It was São, my godmother who lives in the front house. São is a very willing lady, who despite having some mobility difficulties, she did not give up punctuality and was our faithful lunch company. "How many giraffes are they on?" she asked to know if the work was going well. Sometimes I got the feeling that the whole village knew that we were making giraffes, one after the other. Ahead… in the afternoon we drew about 5 hours in a row and sometimes we went to have a snack at the central cafe, bread and cheese and half of milk, which only served to allow the scandal that followed: the U-shaped eclair that we shared irmatically because there was only one! And it is not that time multiplied at all. We have been there much longer than we have actually been. So much so that on the sixth day Dinis already said the following to me quite naturally: "Chico, I'm going to António Júlio". António Júlio is the owner of the grocery store, which I have known for years, and who had my mother's orders not to get a penny from us because it was supposed to be all on her account. Impeccable, but it bothered us that we had to buy a bottle of whiskey at the nearest town. Whiskey, it was said in Portuguese Portuguese (it comes from quota) because we insisted. It was part of our ritual of the evening. Sitting on the two chairs in the living room, we listened to Fausto, Trovante, Zeca, Vitorino and some Soviet songs. And we finally went to bed at around 10 pm every day.




FRANCISCO EDUARDO ARTISTA


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