As pinturas de Ana Monteiro são como metáforas, porque é nelas que a realidade do pensador se encontra no fundo do pensamento. Como escrever um poema, que o que interessa não são as cores ou as letras, mas espasmos de pensamentos capazes de um tremor que sacode tudo ao redor.
Ana Monteiro paintings are like metaphors, because it´s in them that the reality of the thinker lies deep in what is thought. Like writing poems, that what interests are not the colors or the letters, but spasms of thoughts capable of a tremor that shake everything around.
O que te inspira?
What inspires you?
A reflexão sobre a identidade, o narcisismo e o egocentrismo vistos de uma forma positiva, o desfasamento entre nós e o meio social. O desfasamento entre nós e o entendimento que temos de nós próprios. Esse desfasamento entre o eu e o eu e a busca incessante de auto compreensão. E tudo isto porque o ser humano me fascina.
As nossas múltiplas facetas. A nossa complexidade. A nossa incapacidade atroz de não nos conhecermos sequer a nós próprios. Há qualquer coisa de brutalmente belo nisso. De profundamente irónico. E é essa crueza, essa ironia, que tenho tentado tornar uma constante na minha obra.
The reflection on identity, narcissism and egocentrism viewed in a positive way, the gap between us and the social environment. The gap between us and our understanding of ourselves. This gap between the self and the self and the incessant search for self-understanding. And all this because the human being fascinates me. Our multiple facets. Our complexity. Our atrocious inability to not even know ourselves. There is something brutally beautiful about it. Deeply ironic. And it is this rawness, this irony, that I have tried to make a constant in my work.
Porquê esta obsessão com a identidade?
Why this obsession with identity?
Porque é aquilo que de mais pertinente tenho para dizer. Para mostrar. É falar de uma revolta contra o entorpecimento que impingimos a nós próprios. De uma necessidade de priorização do olhar: primeiro para dentro, depois novamente para dentro e só então, para fora. Isso nunca acontece hoje - a maior parte de nós está submerso num sem número de ideais coletivos e numa necessidade de tomar uma posição que deve ser ouvida e aplaudida dentro desses ideais… e tudo isso antes de termos sequer a mínima ideia de quem somos…quanto mais saber qual o lugar que queremos e devemos ocupar. Frequentemente ocupamos os lugares errados. Damos a cara pelas causas erradas. E isto porque ainda não nos demos sequer tempo de olhar e conhecer a cara que temos.
Because that is what I have to say most pertinent. To show. It is talking about a revolt against the numbness that we impose on ourselves. From a need to prioritize the look: first inwards, then again inwards and only then, outwards. That never happens today - most of us are immersed in countless collective ideals and in a need to take a stand that must be heard and applauded within those ideals... and all of this before we even have the slightest idea of who we are... more to know which place we want and should occupy. We often occupy the wrong places. We face the wrong causes. And this is because we have not yet given ourselves time to look and know the face we have.
Como pintas?
How do you paint?
Gosto de lugares que abram a porta a uma certa confusão. De um ideal de ninho. De um espaço onde, durante o processo criativo, se acumule o caos. As folhas de rascunhos pelo chão. Os plásticos. Os pinceis que se estragaram por não terem sido limpos.
A tinta no soalho que depois irremediavelmente terei de passar horas a esfregar. O meu processo criativo é, profundamente, … pouco asseado. O meu atelier fica caótico depois de uma semana de pintura intensiva. E sinto que, de alguma forma, isso me faz falta.
I like places that open the door to some confusion. Of a nest ideal. From a space where, during the creative process, chaos accumulates. Scratch sheets on the floor. Plastics. The brushes that were damaged by not being cleaned. The paint on the floor, which I will then irremediably have to spend hours scrubbing. My creative process is, deeply,… little clean. My studio is chaotic after a week of intensive painting. And I feel that, somehow, I miss it.
O que pretendes? What do you want?
Criar pensamento. Criar ideias… e partilhá-las.
Create thought. Create ideas… and share them.
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